Estão me copiando, e agora? TUDO o que você precisa saber

maio 8, 2019

Essa é uma preocupação constante na era digital, na era em que cada um de nós somos uma mídia e uma marca. 

Algumas semanas atrás, uma cliente me abordou preocupada: 

– Ju, me acusaram de copiar um conteúdo. E eu não copiei! Isso já aconteceu com você? Depois dessa acusação eu estou travada, não consigo mais compartilhar conteúdo, fiquei chateada e com medo das críticas. 

Tentei entender melhor a situação. 

Os meus clientes são sempre bem intencionados e tem muito conhecimento a compartilhar. Geralmente, também são mais preocupados com as críticas e a exposição, já que se preocupam com o seu nome e a sua reputação. 

Não queria que ela permanecesse “travada”, sem oferecer o seu conteúdo por causa dessa situação. 

O que aconteceu: 

As duas atuam na mesma área. E a acusação aconteceu porque a minha cliente apresentou ao público duas ideias muito similares à da influenciadora: a de um post e a de um desafio. Além disso, houve também um fator que provavelmente plantou uma semente e criou um alerta na mente de quem a acusou: a participação em seu curso online. 

A conclusão a que chegaram após uma “conversa” no Instagram: Não houve cópia, mas apenas uma coincidência, afinal ela também tem conhecimento e experiência prática na área. 

Para que esse fantasma não pairasse de novo em suas mentes, a sugestão da minha cliente foi: 

“Vamos nos bloquear, assim você verá que não há intenção nenhuma em te copiar. Foi realmente coincidência”. 

Essa situação te soa familiar? 

Talvez você já esteve prestes a abordar alguém que o copiou. Ou mesmo já esbravejou com um amigo sobre aquela pessoa que roubou a sua ideia, copiou o seu estilo ou o seu conteúdo.

Depois desse episódio que compartilhei no stories no Instagram, recebi mensagem de outras pessoas em situações similares: tanto de terem sido acusadas, quanto de mencionarem pessoas que sempre as copiam.

Situações que levaram à perda de amizades. E outras que foram parar na Justiça. 

Como lidar com essas situações? 

Aqui alguns insights e dicas que compartilho: 

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Pare e respire

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Parece bobagem, mas ajuda!

Isso porque a nossa primeira reação será de nos sentirmos injustiçados. E o nosso impulso, de querermos resolver a situação imediatamente. 

“Afinal, investimos tanto tempo na criação desse conteúdo, ou em encontrar essa ideia, como pode simplesmente vir alguém aqui e facilmente roubá-los?”

Eu já estive nessa posição. 

Já teve tempos em que deixei a vaidade me levar e alfinetei outra pessoa, após receber uma mensagem de que “ela repete a sua forma de falar e o seu conteúdo”. Hoje vejo que, desnecessariamente. 

Já deixei de acompanhar uma pessoa que – na minha percepção – fazia sempre conteúdos similares ao meu. E deixar de segui-la foi, na época, a minha forma de livrar daquele incômodo. 

Recentemente, algumas situações similares aconteceram, mas minha reação foi diferente. E eu enxergo também de uma forma diferente. 

Se existe algum incômodo, mesmo que breve, a minha primeira atitude é me questionar:Por que eu estou reagindo dessa forma? Por que eu me sinto dessa forma? Por que esse desconforto está presente? 

E eu paro. Respiro. E reflito. 

  • Será que é a vaidade do criador falando mais alto, ao pensar que sua obra é única e deveria permanecer assim? 
  • Será que é a insegurança de que o outro fará algo melhor ou terá mais visibilidade com aquilo que você também produziu? 
  • Será que é o pensamento de escassez, de que aquela será a nossa única ideia ou conteúdo e, que depois disso, não produziremos mais nada relevante? 
  • Ou será que realmente houve má intenção por trás dessa ação, o que pode nos trazer prejuízo? 

Na era da criação e do consumo rápido de informação, muitos procuram um atalho. E muitos outros (ou às vezes, os mesmos que o procuram) são esse atalho. 

Quando perguntei aos meus seguidores no Instagram se eles já haviam sido copiados: 

87% deles disse que sim. Na pergunta seguinte, questionei se já haviam copiado alguém e 71% disse que sim.

Ou seja, copiar faz parte do nosso dia a dia. Copiamos e somos copiados.

Essa mesma lógica é muito bem pontuada no famoso livro “Roube como um artista” que nos ensina como fazê-lo: 

(Imagem: Carolina Morgado)

Copiar é a forma como aprendemos a aprender. Foi observando, absorvendo, repetindo o que acontece ao redor que nós aprendemos o que sabemos hoje. E é observando, repetindo e escutando aqueles que temos como referência ou que estão ao nosso redor que também nos encontramos. 

Ao captar o que nos faz sentido – de diversas maneiras, em diversas direções – que então seremos capazes de interpretar e reproduzir da nossa maneira para o mundo. 

(Claro que, nesse caso gente, o sentido de copiar não significa o plágio. Se esse for o caso, é preciso avaliar a situação) 

Mas, por que me sinto tão mal quando sou copiado? 

Pare, analise e reflita, questione as perguntas que fiz acima. E reaja, se necessário, somente depois.

PS: Logo antes de publicar esse texto, recebi uma notificação de um conteúdo de uma coluna em um jornal online que usava as mesmas palavras, exemplos e a mesma linha de raciocínio de uma aula gratuita que ofereci na semana passada. 

E, ainda, era um combinado, um misto de conteúdo que disponibilizei na mesma semana no meu Instagram. No final das contas, dava pra perceber que era um ‘copia e cola’ meio que sem uma linha coerente. Nesse caso, não tive nenhuma emoção, já que na minha perspectiva não há sustentabilidade para esse tipo de abordagem. 

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Não existe nada novo. E o que é “novo” atrai atenção

O Diretor americano Jim Jarmusch um dia disse (e muito bem): 

“Nada é original. Roube de qualquer lugar que ressoe como inspiração ou estimule a sua imaginação. Devore filmes antigos, novos filmes, música, livros, pinturas, fotografias, poemas, sonhos, conversas aleatórias, arquitetura, pontes, placas de rua, árvores, nuvens, corpos de água, luz e sombras. Selecione apenas coisas para roubar que falam diretamente com a sua alma. Se você fizer isso, seu trabalho (e roubo) será autêntico. Autenticidade é inestimável; originalidade é inexistente.E não se preocupe em esconder o seu roubo – celebre se você quiser”

E mantenha sempre em mente também o que Jean-Luc Godard disse:

“O importante não é de onde você tira as coisas – é para onde você as leva”.

É importante pontuarmos essa diferença entre originalidade e autenticidade. Existe realmente algo 100% original? Uma criação que não haja referências, adaptações, combinações pré-existentes? 

Autenticidade, por definição é: a qualidade de ser real ou verdadeiro. 

E apenas somos reais ou verdadeiros, quando somos capazes de nos conectar com a nossa essência, com a nossa identidade. Usar o nosso poder de observação, emoções, conhecimento, referências, personalidade para criar algo que traduz a nossa verdade. 

E essa obra será única. Pelo simples fato de que somos únicos. 

Além disso, boas ideias e boas mensagens só se tornarão “comuns” se forem replicadas e disseminadas por mais pessoas. Nesse caso, a cópia de algo “original” trará bons frutos e evolução para toda a sociedade. 

Será que estamos aqui para nos apropriarmos de algo ou para contribuirmos para uma evolução? Se formos pioneiros de algo que não foi disseminado e ninguém conhece, será que sustentaríamos esse título com tanto orgulho? 

Será que teríamos evoluído tão rápido se o criador da internet, Tim Berners-Lee, não tivesse optado por mantê-la aberta e gratuita? 

“Se a tecnologia fosse proprietária e, no meu controle total, provavelmente não teria decolado. Você não pode propor que algo seja um espaço universal e, ao mesmo tempo, manter o controle dele” – disse Tim. 

Tim foi considerado uma das 100 pessoas mais importantes do século XX pela revista Time: 

“Ele teceu a World Wide Web e criou uma mídia de massa para o século 21. Ele a projetou. Ele a soltou no mundo. E mais do que ninguém lutou para mantê-la aberta, não-proprietário e livre”. 

“O importante não é de onde você tira as coisas – é para onde você as leva”. Certo?

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Leia também: 3 nomes bem sucedidos que se tornaram sinônimos de fraudes

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Teoria das descobertas múltiplas e a coincidência criativa

No dia em que eu falei sobre esse conteúdo no meu stories, uma seguidora me marcou no vídeo de outra pessoa falando sobre o mesmo assunto e disse:

“Ju, olha que coincidência!”

Atuamos na mesma área. Falávamos sobre o mesmo assunto. E não houve cópia. E acredito que nem sequer inspiração, já que produzimos aquele conteúdo em um timing bem similar e com abordagens diferentes. 

Foi apenas uma “coincidência criativa”.

E essas coincidências são muito comuns – e as descobertas delas ainda mais, já que estamos em um meio hiperconectado e tendo acesso às mesmas fontes. 

Historiadores e sociólogos observaram a ocorrência, na ciência, de “múltiplas descobertas independentes”

E é sobre isso que Robert K. Merton escreve em sua dissertação “Descobertas Múltiplas Inteligentes e Criatividade na Ciência” onde definiu “múltiplos” como situações em que descobertas semelhantes são feitas por cientistas que trabalham independentemente uns dos outros.

Como exemplos, ele cita a formulação do cálculo no século 17 de Isaac Newton, Gottfried Wilhelm Leibniz e outros; a teoria da evolução das espécies, que avançou independentemente, no século 19 por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace e a descoberta do oxigênio no século 18 por Carl Wilhelm Scheele, Joseph Priestley Antoine Lavoisier e outros. 

Da próxima vez, questione-se também: será que não foi uma coincidência? 

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Cópia x plágio 

Uma linha tênue. 

E é provavelmente por isso que as análises, reações e tomadas de decisão são difíceis para muitos de nós. Leigos ou não. 

Eu vejo a cópia como uma forma de aprendizado. Imitamos até nos definirmos.Absorvermos até entendermos. É a forma como obtemos o passado, para criar o nosso futuro. 

O plágio, por outro lado, é um roubo. E em vez de nos dar uma oportunidade para aprender, ele existe como um atalho para evitar o trabalho duro que aquela criação exigiria. E por isso, não contribui para ninguém. 

É a partir dessa definição, que eu separo e entendo quem são aqueles que serão bem sucedidos ou não, de forma sustentável. 

O meio online contribuiu para o nosso acesso à informação, mas também nos dá a falsa impressão do anonimato e da impunidade: 

“Ah, se eu copiar e colar aqui, tudo bem! Ninguém vai checar” 

“E esse gráfico legal? Vou postar no meu Instagram, mesmo sem saber de quem ele é”

E o plágio se tornou um hábito. Fazemos muitas vezes sem más intenções. Afinal, não há nada de proprietário na internet, certo? 

Errado. 

À partir do momento que publicamos algo online, nós temos direito sobre aquela criação. 

Um gráfico. Uma arte. Um ebook. São todos eles, obras. 

E se por algum motivo nos sentirmos lesados ou injustiçados, é possível agir judicialmente. 

Mas quando vale a pena entrar nessa batalha? 

Conversei com a Letícia Arrosi, advogada e Doutoranda em Direito Comercial pela USP.

Ela explica que se há prejuízo ou se de alguma forma você se sente lesado, é possível buscar pelo seu direito. Há critérios na lei que podem nos indenizar, sejam pelos direitos morais ou patrimoniais. Se não há pedido de autorização pelo uso daquela criação, há necessariamente violação dos nossos direitos. 

É possível contratar um advogado para avaliar o caso. Ela mesmo diz: cada caso é um caso. 

Uma música, por exemplo, pode ser considerada plágio quando há um certo percentual igual de partituras, quando a composição é parecida. 

Em cada caso há uma perícia, há a busca pela quantificação do dano para avaliar se haverá a indenização. Não existe uma tabela. 

Mas Letícia também diz que muitas vezes uma abordagem direta, uma mensagem, já resolve o caso. 

“As pessoas não sabem que estão violando um direito, uma simples notificação pode fazer com que o caso seja resolvido, sem que vá para a justiça”

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Registros e proteção 

E no caso da minha logomarca? 

O nome da sua empresa ou do seu produto pode ter proteção. Nesse caso, se há cópia, a solução é extrajudicial, resolvida junto ao INPI: Instituto Nacional da Propriedade Industrial

O INPI é é responsável pelo registro e concessão de marcaspatentesdesenho industrialtransferência de tecnologia, softwares, etc. 

Rosângela Lomeo, especialista em Propriedade Industrial, explica que se uma marca é registrada dentro de uma classe de serviços ninguém poderá usá-la em uma mesma classe

Mesmo se há um concorrente, por exemplo, que utiliza um nome com a grafia diferente mas com a pronúncia similar, que podem causar confusão no consumidor, a sua marca poderá ser protegida. 

E no caso do meu software? 

Rosângela explica que no caso de softwares há uma lei específica para a proteção. 

Ela diz que o código-fonte pode ser registrado e ele não poderá ser copiado. 

Entretanto, isso não impede que terceiros desenvolvam a mesma funcionalidade. 

Ela usa como exemplo sites de busca ou mesmo apps como Uber e Cabify, que são similares e possuem a mesma função. 

Mas se não há como impedir a cópia, por que vou querer registrar um software? 

Ela explica que nesse caso o registro é útil mais como ferramenta para negociação de compras ou licenças, por exemplo, do que como proteção. 

Entretanto, se o mesmo código-fonte é utilizado, uma ação poderá ser tomada. 

E no caso da minha ideia? 

A sua ideia não vale nada. 

Depois de alguns anos atuando com startups, essa é uma das frases que eu mais disse. 

O que vale é a execução. É o que você faz com ela. São os resultados que você colhe com ela. 

Quantas vezes como investidores questionamos a maturidade de um empreendedor ao receber um NDA para assinarmos e um pedido: Pode assiná-lo? Não quero que minha ideia seja roubada. 

Se há o preciosismo com relação a uma ideia, pode ser que não haja velocidade para transformá-la, outras pessoas para questioná-la e melhorá-la, ou mesmo desapego para abandoná-la, quando o mercado apontar uma outra direção. 

Somos 7 bilhões de mentes pensantes no mundo. Se você teve uma ideia, outras milhares também a tiveram. 

Mas quantas delas realmente causaram um impacto com ela? 

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Minhas considerações finais: 

  • Não se reprima se você foi copiado ou acusado de ter copiado. Não deixe de escrever, compartilhar o que está na sua mente. Alguém precisa muito do que você tem. 
  • Somos todos criativos. Acredite na sua habilidade de criar, ter ideias e transformá-las em algo de impacto. Não se apegue a apenas uma ideia. Ou não acredite de que é apenas aquela ideia que te trará retorno. 
  • Escolha bem quais batalhas travar. Como todo processo judicial, há um investimento financeiro, de tempo e, principalmente, energia. Coloque a sua mente no que você quer atrair e no que fará realmente a diferença: na execução do seu negócio, da sua visão, nos seus clientes, parceiros e colaboradores. 
  • Observe suas reações e emoções. Tenha cuidado com a obsessão, a paranoia, a vaidade e o ego. Eles te tiram do foco e do que é realmente importante. 
  • Crie não apenas para ter propriedade. Crie para co-construir. Crie para colaborar. Crie para a evolução da nossa sociedade
  • Se está sendo copiado, é que de alguma forma você está sendo considerado pioneiro ou uma referência para alguém. Como dizia Coco Chanel: 

E você, já copiou ou foi copiado? Qual foi a sua reação?

Juliana Saldanha – Estrategista em Personal Branding. Criadora do Método Go-to person. Tenho como objetivo te ajudar a posicionar e a comunicar melhor o seu valor para o mercado. Cada marca pessoal é única, porque não valorizá-la?

Mais textos sobre o assunto? julianasaldanha.com.br

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Sou Estrategista em Personal Branding.
Tenho como missão te ajudar a posicionar-se no mercado e comunicar o seu valor de forma relevante e memorável.

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5 comentários

  1. Parabéns! Gostei bastante.
    Embora palavras pesadas como “roubar” não creio que sejam as mais corretas a se usar e sim ali estejam para efeito marqueteiro.

    Aproveitando o que acha sobre a crítica?

    Gosto de criar e adoro a crítica !
    Gosto de empreender e adoro as dificuldades!
    Gosto quando sou corretamente copiado.
    Procuro não copiar, apenas me inspirar e colaborar na evolução.
    Fui cruelmente plagiado e estou sem reação, há mais de um ano, continuo atônito com o fato.
    Entendo que é um sofrimento não relacionado à “dor de cotovelo” e sim a incompatibilidade cultural e a imaturidade econômica dos que enxergam o dinehiro como fim, se ele foi criado como meio de troca não haveria como ele ser o norte de milhões de pessoas..
    Então temos milhões de pessoas agindo sem rumo… e suas consequências nos afetam muito negativamente.
    Se é que me entende!
    Em suma o texto me ajudou.
    Abraços e continue assim!

    1. Ei Fernando!
      Te entendo sim. E concordo que seja relacionado à imaturidade e à busca de atalhos para o “sucesso”.
      Espero que continue criando e tenho certeza de que terá o retorno e reconhecimento que espera! 🙂
      Obrigada por compartilhar!

  2. Hoje acabei de descobrir a quarta pessoa que está copiando um novo empreendimento que estou abrindo em minha cidade. O pior é que todos os quatro foram pessoas que eu comentei pessoalmente sobre o negócio..,

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